Percursos de gênero é uma investigação curatorial sobre gênero desenvolvida pelo Acervo Bajubá no Centro de Referência do Memorial da Resistência. Como parte do projeto Percursos Curatoriais da instituição, o projeto tem como objetivo aproximar o público do acervo de fontes documentais, testemunhais, iconográficas e bibliográficas do Centro de Referência, dedicado à documentação, preservação e comunicação das memórias de repressão e resistência políticas no Brasil. A pesquisa teve como desdobramentos: duas oficinas, quatro entrevistas para o Coleta Regular de Testemunhos e duas publicações, além de fornecer subsídios para uma exposição temporária do Memorial da Resistência em 2023. [+]
Eu fiquei rejeitando, eu não aguentava, minha mãe trabalhou 30 anos lá, né, e era demitida assim sem mais nem menos, teve nós todas trabalhando. E na, na... Eu vi esses dias na televisão e lembrei, os filhos dos Hansenias, eu acho que foi ontem, na reportagem, na cidade, junto com a igreja, a fábrica tinha uma espécie de creche, até a Sofia... Quando os filhos do coronel Frederico, que era o primeiro Lundgren, eles engravidavam uma moça na fábrica, uma operária, eles arrancavam essa menina, essa menina que era filha deles, que eles sabiam, tiravam da moça, da mãe, e levava pra essa creche aonde essa criança ia ser educada.
Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar com Maria José Soares, concedida a Karina Alves e Paula Salles em 25/07/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
E ela tinha uma coisa, quando ela veio pro orfanato tinha várias crianças filhos de famílias ricas, e pro rico se a filha solteira engravidasse, eles não podiam assumir aquela criança. Então eles punham no orfanato, que era essa casa que a irmã Maurina tá aí dirigindo. Né? Então eles davam dinheiro por mês. No dia que ela descobriu isso, ela ficou brava, brava. Pegou os endereços, catou cada uma criança, foi entregar nas mansões, cê imagina... Mansões, bem! Dos Usineiros, do, dos empresários e falava: “Essa criança tá tomando o lugar de uma criança pobre. E ela também tem o direito de ser criada por sua própria família, então eu vim devolver pra vocês que são a família”. Virava as costas e ia embora. Eles começaram a perseguir ela, ela falava que não era só a política, que ela já tinha sentido a perseguição contra ela, dos homens assim. No dia que eu tava contando isso, que eu falei que ela não era comunista, ela não era. Falaram assim: “Como? Depois do que ela fez, cê veio falar pra gente que ela não é comunista? É claro que ela é, olha que coisa boa!”
Entrevista com Áurea Moretti sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar, concedida a Karina Alves e Fernanda Casagrande em 16/05/2013. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Ela era subversiva. Ela era o tipo da pessoa subversiva. "Por que eu falei isso aí?" Eu falei assim. Porque de repente ela era também conhecedora de ervas, sabe? Ela entrava no mato, vinha com a mão cheia de ervas. Aí, eu nem quis aprender. Eu falei assim: "Mãe..." "Ai eu preciso, que eu preciso montar uma garrafada não sei pra quem, e não sei o que." Acho que eu já tava com quase 50 anos quando eu descobri que essas garrafadas que ela fazia eram abortivas. Por isso que tinha muita mulher que a procurava. Olha! E todo mundo contra o aborto, isso e aquilo. Eu sou a favor. Digo, repito, quem é dono do corpo da mulher é a mulher. Ela que sabe o que ela vai sofrer o resto da vida, na cabeça dela, mas ela é dona do corpo. E minha mãe fazia essas garrafadas, como também fazia xarope pra tosse e pra asma. Então ela subversiva.
Coleta Testemunho com Maria Aparecida dos Santos, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Coleta Testemunho sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Pereira Maria, concedida a Luiza Giandalia e Desirée Azevedo em 13/10/2016. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Obras do acervo do Museu de Arte Osório Cesar, de Conceição. As obras são em giz de cera e grafite sobre papel, com a data de 03/06/87 no verso. Créditos: Coleção Museu de Arte Osório Cesar; Cortesia: Complexo Hospitalar do Juquery e Prefeitura de Franco da Rocha; Fotografia: Gisele Ottoboni.
Mesa redonda realizada no Departamento de Geografia da USP - Auditório Milton Santos, no dia 02/05/2018, com a participação de Cecília Hansen (Missionária e integrante do Clube de Mães da Vila Remo), Odete Marques (Integrante do Clube de Mães da Vila Remo), Vanda Gama (Professora e ex-operária metalúrgica) e Ana Maria do Carmo Silva (Ana Dias, Integrante do Clube de Mães Santa Margarida), com mediação de Anaclara Volpi.
Ele respondia tudo a Polícia Civil, né? E depois de alguns anos, já madura, né? Eu vim a entender bem o que ele fazia. Então, na minha cabeça, ele repetia o discurso, né? Ele seguia ordens e acabou, sabe? Minha mãe, não. Ela já era uma mulher diferenciada, e diferencia assim... Eu, nossa, achava ela espetacular. Hoje, né? Eu vejo, ela era espetacular. Porque a gente morava nesse interior, né? Fictício, e o terreno era muito grande. Minha mãe colocava morador de rua dentro de casa, sem que ninguém percebesse e, geralmente, ela colocava mulheres, né? Uma delas a gente viu, né? Mas com a minha mãe não tinha questionamento. Ela já tinha feito, tava feito.
Coleta Testemunho com Maria Aparecida dos Santos, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Apresentação do projeto Resistir é Preciso… sobre a trajetória da imprensa brasileira que combateu e resistiu à ditadura militar, na clandestinidade, no exílio e, como alternativa, nas bancas, desenvolvido pelo Instituto Vladmir Herzog (2011). Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Coleta Testemunho sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Pereira Maria, concedida a Luiza Giandalia e Desirée Azevedo em 13/10/2016. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Entrevista com Wilma Aparecida Bernardo da Silva, filha do casal Carlos e Atília Bernardo. Na entrevista Wilma comenta a participação de seus familiares na Greve dos Sete Anos (1962-1969). Créditos: Centro de Memória Queixadas.
Mesa realizada pelo Memorial da Resistência em 03/12/2021 em parceria com a redação jornalística Nós, mulheres da periferia sobre Memórias da Ditadura Nas Periferias de São Paulo. A atividade contou com a presença Cristina Adelina de Assunção, articuladora do projeto Territórios da Memória, do Instituto Vladimir Herzog; Jandira Ribeiro, professora e integrante do Clubes de Mães do bairro de Perus; e Maria Isabel Lopes Correa uma das organizadoras do livro Fé e Política: as lutas das Comunidades Eclesiais de Base e mediação de Jéssica Moreira.
Travesti, nos anos 80, não podia andar na rua, porque você assinava vadiagem e, quando chegava lá, na delegacia, ou até na penitenciária, eles cortavam o seu cabelo. Cortavam o nosso cabelo e, devido a isso, a dona Elisa fez a nossa carteira de artista. Porque quando a polícia civil pegava a gente, você mostrava a carteira de artista e não ia presa. Quantas amigas minhas eu vi entrar no camburão [...] Era uma época horrível. Se você fosse feminina cem por cento, e meu pé é 37, eu, devido a tomar muito hormônio, desde a juventude, eu nunca tive pelo. Eu apanhava de dia, de noite, aonde fosse. [...] Além da Corintho, a gente tinha um grupo de travesti, que a gente se apresentava de segunda a domingo, às quatro e meia da manhã, às quatro e meia da manhã. A gente fazia todos os puteiros de mulher. A gente fazia Galo Vermelho, Michel, Le Mask. A gente fazia Love Story, a gente se apresentava. E a polícia queria prender a gente. Aí, tinha a Nádia, a Nádia Kendel, que comandava o nosso espetáculo. Ela conhecia os policiais, os delegados e ela salvava muitas vezes a gente, porque eles levavam a gente pro 3º Distrito. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Coleta Testemunho com Marcinha do Corinto, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 21/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Você sabe que eu era muito alienada, né? Eu vivia a minha identidade de gênero, assim, eu não tava nem aí (...) Se tava escandalizando ou não, se eu tava passando por mulher ou não. Eu só tive certeza que eu não tava passando por mulher, quando descobriram que eu não era mulher lá no shopping, porque elas fizeram um abaixo-assinado e diziam que eu não era mulher e tava frequentando o banheiro das mulheres. Essa foi a alegação, que eu tive que sair. E o meu patrão respondeu assim: “Eu sou dono da minha loja, eu emprego quem eu quiser”. Só que aí começou a juntar gente pra me olhar, porque anos 70 ainda, uma travesti trabalhando como vendedora? Tem uma série de repressão, e tal. Lugar de travesti é aonde? Cê entendeu?
Coleta Testemunho com Thais Azevedo, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 20/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Do primeiro dia, muito medo. Muito medo. Muito medo porque você desce no Parque D. Pedro, último metrô, subi tudo aquilo a pé. Porque a gente subia o Glicério. A gente subia a pé porque não tinha mais transporte. Eu estava no Parque D. Pedro, com o ônibus, que fechava o metrô. Quando chegava a tempo de pegar o último metrô, dava pra chegar na República de metrô. Quando não, você tinha que subir a pé. Então muito medo, porque a gente subiu a pé. Chega naquele lugar, aquela outra cultura, aquela outra possibilidade. Aí você vê que todo mundo pode se beijar na boca, na rua. As bicha com as bicha, os boys viçando, as travas isoladas no outro lugar, você vê pela primeira vez uma pessoa montada.
Coleta Testemunho com Neon Cunha, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 27/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
A Medieval era, assim, era uma boate gay, classe AAA. Não tinha lugar pra pobre, nem pra travesti. Eu ia pra boate Medieval porque o meu patrão era... Ele podia frequentar porque ele era um gay branco, de olhos azuis, riquíssimo, e entrava comigo, ninguém nem me questionava na porta. Mas aí, chegava lá dentro, ficava sentada olhando pra cara de uma porção de gay, que não tava nem interessado em mim, uma figura feminina, então era muito monótono. E, um dia, o meu patrão, a gente saiu da boate mais cedo (...) Aí a gente foi pra Angélica. Angélica, aí você contornava, assim, tinha uma rua, assim, que chamava Minas Gerais. Ali tudo era lugar de prostituição das travestis. Mas travestis, assim, de sonho, sabe? Tinha travesti até com boá de pluma naquela... [Risos] Você tinha que ver como eram as travestis de São Paulo na noite.
Coleta Testemunho com Thais Azevedo, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 20/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
E quem vai olhar pela travesti? Se não olham pro brasileiro, quem vai olhar pra travesti?
Coleta Testemunho com Marcinha do Corinto, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 21/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Meu pai pedia muito pra que não fosse, porque se a gente fosse presa, alguma coisa, ele não poderia fazer nada, né? "Ah, se vocês forem pegos na rua, não posso fazer nada." Ele sempre falava: "Sossega. Espera em casa." Mas não tinha como. Aí, eu e minha irmã, também, como vou dizer? Ela sempre esteve comigo, a irmã mais nova. Ela dizia assim: "Nós somos mulheres. Nós não vamos..." Sabe? Nossas discussões em casa. "Nós não vamos ser pegas." E, de repente, eu penso assim, mulheres mesmo, né? E mulheres negras…
Coleta Testemunho com Maria Aparecida dos Santos, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Localização aproximada da Casa de Treinamento da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupo formado em 1968. Em Janeiro de 1970 vinte militantes da VPR dirigidos por Carlos Lamarca estabeleceram a sede de treinamento de guerrilha no local, tendo como fachada uma família de moradores chefiada pela militante Tercina Dias.
Desde 1979, todo dia 30 de outubro, é realizado um ato diante da antiga Fábrica Sylvania para relembrar o assassinato do operário Santo Dias pela Repressão Ditatorial.
Quando ela saiu, era 1987, eu acho. Não é? Quer dizer, há quanto tempo? Ela disse onde era essa Casa da Morte. A imprensa notificou o endereço, descobriram que era uma casa de um nazista que tava alugada ao DOI-Codi. E a Inês sobreviveu muito tempo, até quatro anos atrás quando ela morando aqui no centro de São Paulo, a sua casa foi invadida, ninguém sabe por quem nem por quê. E a Inês... Eu vi a Inês recentemente dando depoimento. Ela não mais fala, ela não se lembra direito de quem ela é, ela foi mutilada porque tinha esse segredo, a Casa da Morte. Era a única sobrevivente.
Coleta Pública de Testemunhos com Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos com Rosalina Santa Cruz, concedida a Ivan Seixas em 12/04/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Em que lugar você encontra isso? A não ser entre companheiros. Inclusive tem um fato também, eu não sei nem o nome, nada. Não lembro nem muito fisicamente. Teve uma companheira que ela ia ser transferida acho que para Minas Gerais. Então ela recebeu da família dela algumas roupas e, entre as roupas, ela recebeu uma toalha. Aí ela tava se despedindo da gente, ela dobrou a toalha e me deu. Até uns cinco anos atrás eu tinha essa toalha. Numa das mudanças, eu perdi. Então, eram pequenos gestos, porque a gente não pedia, eu não falava. Eu perdi a capacidade. Provavelmente eu vou te encontrar na rua, se for num outro ambiente, não vou reconhece-las. Não é que eu seja antipática, eu não gravo. Procurava não gravar a fisionomia, não gravar nomes, não falar, eu não queria saber de nada. Eu não sabia se tinha microfone, auto falante, sei lá, gravador, entendeu? Então eu me fechei. E isso ocorreu com muita gente. Se eu nunca te vi na minha vida, se eu nunca te vi na minha vida, como eu posso te falar alguma coisa? Não posso.
Entrevista com Darci Toshiko Miyaki sobre o DOI-Codi/SP no contexto da ditadura civil-militar, concedida a Karina Alves e Ana Paula Brito em 24/04/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Então, nesse meu depoimento todo, eu quero destacar muito o papel das mulheres. Veja você: se hoje nós conhecermos os mortos que existem... Além do papel da igreja, evidente. Igrejas. Não é católica, somente. O papel das mulheres, quem vai lá em Perus? Quem consegue? É a Erundina, com quem? Suzana Lisboa, Criméia, Amelinha Teles e o Ivan que era homem, era o único. Você entendeu? (…) Nós, as mulheres, sabe? As meninas, Suzana, Amelinha, sempre as mulheres. A anistia, Terezinha Zerbini, a Lila Galvão, madre Cristina, puxa vida, sabe? As mulheres. E até hoje, o papel delas. Ó, muito à frente de vocês homens! [risos] E vou dizer mais, o trabalho delas... Foi importante. Não só pros mortos, pra saber quem foi assassinado, quem desapareceu, pra nós sobreviventes, quantas calúnias foram levantadas? E documentos que elas resgataram também resgataram a história nossa, de muitos sobreviventes. Então eu acho que o papel delas tem que ficar registrado. Bom, algo mais?
Entrevista com Darci Toshiko Miyaki sobre o DOI-Codi/SP no contexto da ditadura civil-militar, concedida a Karina Alves e Ana Paula Brito em 24/04/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Quando você ia enxergando os problemas, você queria a solução, mas a solução não existe. A luta não tem fim. A luta não era lá. A luta era ontem, hoje e sempre. Eu vou morrer, o Santo morreu, muitos morrem e nunca vai acabar a luta. Mas algumas vitórias a gente também tem, não é só derrota.
Coleta Testemunho com Ana Maria do Carmo Silva (Ana Dias), concedida a Karina Alves e Ana Paula Brito em 30/09/2014.Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Vamos parar com essa palhaçada, porque eu sou filha da ditadura até os anos 2000. Eu conheço a ditadura até os anos 2000, que são as operações de extermínio, que tem residual da ditadura e práticas da ditadura. As torturas a quais a gente somos, nós somos submetidas hoje, que o Brasil escravagista mantém, só ganharam mais excelência, que também tem a ver com a Santa Inquisição, com os valores morais da ditadura. As réplicas estão todas ali, de torturas e de processo. A sofisticação... Mas a precarização é a mesma. É mantida. Então, assim, dizer que ela acabou em 85, pra quem? Eu continuei preta, pobre e trans.
Coleta Testemunho com Neon Cunha, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 27/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Curadoria: Acervo Bajubá
Pesquisa: Ariana Mara da Silva e Florence Belladonna Travesti
Pesquisa complementar: Remom Bortolozzi e Natan
Produção: Bruno O., Marcos Tolentino e Yuri Fraccaroli
Identidade visual: Bruno O.
Oficina de escrita e publicação [não parecem sentir vergonha]: Amara Moira e Laura Daviña
Mediação da publicação [Coletiva da Mulheres]: Laura Daviña
[Coletas de Testemunho]
Entrevistadores: Marcos Tolentino e Yuri Fraccaroli
Participação: Neon Cunha, Thais Azevedo, Marcinha do Corinto e Iyá Cida
Mediação testemunho público: Barbara Esmênia e Julia Gumieri
Participação (testemunho público): Rita Quadros, Daiane Pettine e Florencia Castoldi
Agradecimentos: Ana Pato, Julia Gumieri, Bruna Caetano, Jean Camoleze, Elielton Ribeiro, Museu de Arte Osório Cesar, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro, PS_SP/Parquinho Gráfico, JAMAC/Jardim Miriam Arte Clube, Casa do Povo e Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico
Percursos de gênero é uma investigação curatorial sobre gênero desenvolvida pelo Acervo Bajubá no Centro de Referência do Memorial da Resistência. Como parte do projeto Percursos Curatoriais da instituição, o projeto tem como objetivo aproximar o público do acervo de fontes documentais, testemunhais, iconográficas e bibliográficas do Centro de Referência, dedicado à documentação, preservação e comunicação das memórias de repressão e resistência políticas no Brasil. A pesquisa teve como desdobramentos: duas oficinas, quatro entrevistas para o Coleta Regular de Testemunhos e duas publicações, além de fornecer subsídios para uma exposição temporária do Memorial da Resistência em 2023. [+]
Eu fiquei rejeitando, eu não aguentava, minha mãe trabalhou 30 anos lá, né, e era demitida assim sem mais nem menos, teve nós todas trabalhando. E na, na... Eu vi esses dias na televisão e lembrei, os filhos dos Hansenias, eu acho que foi ontem, na reportagem, na cidade, junto com a igreja, a fábrica tinha uma espécie de creche, até a Sofia... Quando os filhos do coronel Frederico, que era o primeiro Lundgren, eles engravidavam uma moça na fábrica, uma operária, eles arrancavam essa menina, essa menina que era filha deles, que eles sabiam, tiravam da moça, da mãe, e levava pra essa creche aonde essa criança ia ser educada.
Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar com Maria José Soares, concedida a Karina Alves e Paula Salles em 25/07/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
E ela tinha uma coisa, quando ela veio pro orfanato tinha várias crianças filhos de famílias ricas, e pro rico se a filha solteira engravidasse, eles não podiam assumir aquela criança. Então eles punham no orfanato, que era essa casa que a irmã Maurina tá aí dirigindo. Né? Então eles davam dinheiro por mês. No dia que ela descobriu isso, ela ficou brava, brava. Pegou os endereços, catou cada uma criança, foi entregar nas mansões, cê imagina... Mansões, bem! Dos Usineiros, do, dos empresários e falava: “Essa criança tá tomando o lugar de uma criança pobre. E ela também tem o direito de ser criada por sua própria família, então eu vim devolver pra vocês que são a família”. Virava as costas e ia embora. Eles começaram a perseguir ela, ela falava que não era só a política, que ela já tinha sentido a perseguição contra ela, dos homens assim. No dia que eu tava contando isso, que eu falei que ela não era comunista, ela não era. Falaram assim: “Como? Depois do que ela fez, cê veio falar pra gente que ela não é comunista? É claro que ela é, olha que coisa boa!”
Entrevista com Áurea Moretti sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar, concedida a Karina Alves e Fernanda Casagrande em 16/05/2013. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Ela era subversiva. Ela era o tipo da pessoa subversiva. "Por que eu falei isso aí?" Eu falei assim. Porque de repente ela era também conhecedora de ervas, sabe? Ela entrava no mato, vinha com a mão cheia de ervas. Aí, eu nem quis aprender. Eu falei assim: "Mãe..." "Ai eu preciso, que eu preciso montar uma garrafada não sei pra quem, e não sei o que." Acho que eu já tava com quase 50 anos quando eu descobri que essas garrafadas que ela fazia eram abortivas. Por isso que tinha muita mulher que a procurava. Olha! E todo mundo contra o aborto, isso e aquilo. Eu sou a favor. Digo, repito, quem é dono do corpo da mulher é a mulher. Ela que sabe o que ela vai sofrer o resto da vida, na cabeça dela, mas ela é dona do corpo. E minha mãe fazia essas garrafadas, como também fazia xarope pra tosse e pra asma. Então ela subversiva.
Coleta Testemunho com Maria Aparecida dos Santos, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Coleta Testemunho sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Pereira Maria, concedida a Luiza Giandalia e Desirée Azevedo em 13/10/2016. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Obras do acervo do Museu de Arte Osório Cesar, de Conceição. As obras são em giz de cera e grafite sobre papel, com a data de 03/06/87 no verso. Créditos: Coleção Museu de Arte Osório Cesar; Cortesia: Complexo Hospitalar do Juquery e Prefeitura de Franco da Rocha; Fotografia: Gisele Ottoboni.
Mesa redonda realizada no Departamento de Geografia da USP - Auditório Milton Santos, no dia 02/05/2018, com a participação de Cecília Hansen (Missionária e integrante do Clube de Mães da Vila Remo), Odete Marques (Integrante do Clube de Mães da Vila Remo), Vanda Gama (Professora e ex-operária metalúrgica) e Ana Maria do Carmo Silva (Ana Dias, Integrante do Clube de Mães Santa Margarida), com mediação de Anaclara Volpi.
Ele respondia tudo a Polícia Civil, né? E depois de alguns anos, já madura, né? Eu vim a entender bem o que ele fazia. Então, na minha cabeça, ele repetia o discurso, né? Ele seguia ordens e acabou, sabe? Minha mãe, não. Ela já era uma mulher diferenciada, e diferencia assim... Eu, nossa, achava ela espetacular. Hoje, né? Eu vejo, ela era espetacular. Porque a gente morava nesse interior, né? Fictício, e o terreno era muito grande. Minha mãe colocava morador de rua dentro de casa, sem que ninguém percebesse e, geralmente, ela colocava mulheres, né? Uma delas a gente viu, né? Mas com a minha mãe não tinha questionamento. Ela já tinha feito, tava feito.
Coleta Testemunho com Maria Aparecida dos Santos, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Apresentação do projeto Resistir é Preciso… sobre a trajetória da imprensa brasileira que combateu e resistiu à ditadura militar, na clandestinidade, no exílio e, como alternativa, nas bancas, desenvolvido pelo Instituto Vladmir Herzog (2011). Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Coleta Testemunho sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Pereira Maria, concedida a Luiza Giandalia e Desirée Azevedo em 13/10/2016. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Entrevista com Wilma Aparecida Bernardo da Silva, filha do casal Carlos e Atília Bernardo. Na entrevista Wilma comenta a participação de seus familiares na Greve dos Sete Anos (1962-1969). Créditos: Centro de Memória Queixadas.
Mesa realizada pelo Memorial da Resistência em 03/12/2021 em parceria com a redação jornalística Nós, mulheres da periferia sobre Memórias da Ditadura Nas Periferias de São Paulo. A atividade contou com a presença Cristina Adelina de Assunção, articuladora do projeto Territórios da Memória, do Instituto Vladimir Herzog; Jandira Ribeiro, professora e integrante do Clubes de Mães do bairro de Perus; e Maria Isabel Lopes Correa uma das organizadoras do livro Fé e Política: as lutas das Comunidades Eclesiais de Base e mediação de Jéssica Moreira.
Travesti, nos anos 80, não podia andar na rua, porque você assinava vadiagem e, quando chegava lá, na delegacia, ou até na penitenciária, eles cortavam o seu cabelo. Cortavam o nosso cabelo e, devido a isso, a dona Elisa fez a nossa carteira de artista. Porque quando a polícia civil pegava a gente, você mostrava a carteira de artista e não ia presa. Quantas amigas minhas eu vi entrar no camburão [...] Era uma época horrível. Se você fosse feminina cem por cento, e meu pé é 37, eu, devido a tomar muito hormônio, desde a juventude, eu nunca tive pelo. Eu apanhava de dia, de noite, aonde fosse. [...] Além da Corintho, a gente tinha um grupo de travesti, que a gente se apresentava de segunda a domingo, às quatro e meia da manhã, às quatro e meia da manhã. A gente fazia todos os puteiros de mulher. A gente fazia Galo Vermelho, Michel, Le Mask. A gente fazia Love Story, a gente se apresentava. E a polícia queria prender a gente. Aí, tinha a Nádia, a Nádia Kendel, que comandava o nosso espetáculo. Ela conhecia os policiais, os delegados e ela salvava muitas vezes a gente, porque eles levavam a gente pro 3º Distrito. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Coleta Testemunho com Marcinha do Corinto, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 21/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Você sabe que eu era muito alienada, né? Eu vivia a minha identidade de gênero, assim, eu não tava nem aí (...) Se tava escandalizando ou não, se eu tava passando por mulher ou não. Eu só tive certeza que eu não tava passando por mulher, quando descobriram que eu não era mulher lá no shopping, porque elas fizeram um abaixo-assinado e diziam que eu não era mulher e tava frequentando o banheiro das mulheres. Essa foi a alegação, que eu tive que sair. E o meu patrão respondeu assim: “Eu sou dono da minha loja, eu emprego quem eu quiser”. Só que aí começou a juntar gente pra me olhar, porque anos 70 ainda, uma travesti trabalhando como vendedora? Tem uma série de repressão, e tal. Lugar de travesti é aonde? Cê entendeu?
Coleta Testemunho com Thais Azevedo, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 20/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Do primeiro dia, muito medo. Muito medo. Muito medo porque você desce no Parque D. Pedro, último metrô, subi tudo aquilo a pé. Porque a gente subia o Glicério. A gente subia a pé porque não tinha mais transporte. Eu estava no Parque D. Pedro, com o ônibus, que fechava o metrô. Quando chegava a tempo de pegar o último metrô, dava pra chegar na República de metrô. Quando não, você tinha que subir a pé. Então muito medo, porque a gente subiu a pé. Chega naquele lugar, aquela outra cultura, aquela outra possibilidade. Aí você vê que todo mundo pode se beijar na boca, na rua. As bicha com as bicha, os boys viçando, as travas isoladas no outro lugar, você vê pela primeira vez uma pessoa montada.
Coleta Testemunho com Neon Cunha, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 27/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
A Medieval era, assim, era uma boate gay, classe AAA. Não tinha lugar pra pobre, nem pra travesti. Eu ia pra boate Medieval porque o meu patrão era... Ele podia frequentar porque ele era um gay branco, de olhos azuis, riquíssimo, e entrava comigo, ninguém nem me questionava na porta. Mas aí, chegava lá dentro, ficava sentada olhando pra cara de uma porção de gay, que não tava nem interessado em mim, uma figura feminina, então era muito monótono. E, um dia, o meu patrão, a gente saiu da boate mais cedo (...) Aí a gente foi pra Angélica. Angélica, aí você contornava, assim, tinha uma rua, assim, que chamava Minas Gerais. Ali tudo era lugar de prostituição das travestis. Mas travestis, assim, de sonho, sabe? Tinha travesti até com boá de pluma naquela... [Risos] Você tinha que ver como eram as travestis de São Paulo na noite.
Coleta Testemunho com Thais Azevedo, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 20/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
E quem vai olhar pela travesti? Se não olham pro brasileiro, quem vai olhar pra travesti?
Coleta Testemunho com Marcinha do Corinto, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 21/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Meu pai pedia muito pra que não fosse, porque se a gente fosse presa, alguma coisa, ele não poderia fazer nada, né? "Ah, se vocês forem pegos na rua, não posso fazer nada." Ele sempre falava: "Sossega. Espera em casa." Mas não tinha como. Aí, eu e minha irmã, também, como vou dizer? Ela sempre esteve comigo, a irmã mais nova. Ela dizia assim: "Nós somos mulheres. Nós não vamos..." Sabe? Nossas discussões em casa. "Nós não vamos ser pegas." E, de repente, eu penso assim, mulheres mesmo, né? E mulheres negras…
Coleta Testemunho com Maria Aparecida dos Santos, concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Localização aproximada da Casa de Treinamento da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupo formado em 1968. Em Janeiro de 1970 vinte militantes da VPR dirigidos por Carlos Lamarca estabeleceram a sede de treinamento de guerrilha no local, tendo como fachada uma família de moradores chefiada pela militante Tercina Dias.
Desde 1979, todo dia 30 de outubro, é realizado um ato diante da antiga Fábrica Sylvania para relembrar o assassinato do operário Santo Dias pela Repressão Ditatorial.
Quando ela saiu, era 1987, eu acho. Não é? Quer dizer, há quanto tempo? Ela disse onde era essa Casa da Morte. A imprensa notificou o endereço, descobriram que era uma casa de um nazista que tava alugada ao DOI-Codi. E a Inês sobreviveu muito tempo, até quatro anos atrás quando ela morando aqui no centro de São Paulo, a sua casa foi invadida, ninguém sabe por quem nem por quê. E a Inês... Eu vi a Inês recentemente dando depoimento. Ela não mais fala, ela não se lembra direito de quem ela é, ela foi mutilada porque tinha esse segredo, a Casa da Morte. Era a única sobrevivente.
Coleta Pública de Testemunhos com Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos com Rosalina Santa Cruz, concedida a Ivan Seixas em 12/04/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Em que lugar você encontra isso? A não ser entre companheiros. Inclusive tem um fato também, eu não sei nem o nome, nada. Não lembro nem muito fisicamente. Teve uma companheira que ela ia ser transferida acho que para Minas Gerais. Então ela recebeu da família dela algumas roupas e, entre as roupas, ela recebeu uma toalha. Aí ela tava se despedindo da gente, ela dobrou a toalha e me deu. Até uns cinco anos atrás eu tinha essa toalha. Numa das mudanças, eu perdi. Então, eram pequenos gestos, porque a gente não pedia, eu não falava. Eu perdi a capacidade. Provavelmente eu vou te encontrar na rua, se for num outro ambiente, não vou reconhece-las. Não é que eu seja antipática, eu não gravo. Procurava não gravar a fisionomia, não gravar nomes, não falar, eu não queria saber de nada. Eu não sabia se tinha microfone, auto falante, sei lá, gravador, entendeu? Então eu me fechei. E isso ocorreu com muita gente. Se eu nunca te vi na minha vida, se eu nunca te vi na minha vida, como eu posso te falar alguma coisa? Não posso.
Entrevista com Darci Toshiko Miyaki sobre o DOI-Codi/SP no contexto da ditadura civil-militar, concedida a Karina Alves e Ana Paula Brito em 24/04/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Então, nesse meu depoimento todo, eu quero destacar muito o papel das mulheres. Veja você: se hoje nós conhecermos os mortos que existem... Além do papel da igreja, evidente. Igrejas. Não é católica, somente. O papel das mulheres, quem vai lá em Perus? Quem consegue? É a Erundina, com quem? Suzana Lisboa, Criméia, Amelinha Teles e o Ivan que era homem, era o único. Você entendeu? (…) Nós, as mulheres, sabe? As meninas, Suzana, Amelinha, sempre as mulheres. A anistia, Terezinha Zerbini, a Lila Galvão, madre Cristina, puxa vida, sabe? As mulheres. E até hoje, o papel delas. Ó, muito à frente de vocês homens! [risos] E vou dizer mais, o trabalho delas... Foi importante. Não só pros mortos, pra saber quem foi assassinado, quem desapareceu, pra nós sobreviventes, quantas calúnias foram levantadas? E documentos que elas resgataram também resgataram a história nossa, de muitos sobreviventes. Então eu acho que o papel delas tem que ficar registrado. Bom, algo mais?
Entrevista com Darci Toshiko Miyaki sobre o DOI-Codi/SP no contexto da ditadura civil-militar, concedida a Karina Alves e Ana Paula Brito em 24/04/2014. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Quando você ia enxergando os problemas, você queria a solução, mas a solução não existe. A luta não tem fim. A luta não era lá. A luta era ontem, hoje e sempre. Eu vou morrer, o Santo morreu, muitos morrem e nunca vai acabar a luta. Mas algumas vitórias a gente também tem, não é só derrota.
Coleta Testemunho com Ana Maria do Carmo Silva (Ana Dias), concedida a Karina Alves e Ana Paula Brito em 30/09/2014.Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Vamos parar com essa palhaçada, porque eu sou filha da ditadura até os anos 2000. Eu conheço a ditadura até os anos 2000, que são as operações de extermínio, que tem residual da ditadura e práticas da ditadura. As torturas a quais a gente somos, nós somos submetidas hoje, que o Brasil escravagista mantém, só ganharam mais excelência, que também tem a ver com a Santa Inquisição, com os valores morais da ditadura. As réplicas estão todas ali, de torturas e de processo. A sofisticação... Mas a precarização é a mesma. É mantida. Então, assim, dizer que ela acabou em 85, pra quem? Eu continuei preta, pobre e trans.
Coleta Testemunho com Neon Cunha, concedida a Marcos Tolentino e Julia Gumieri em 27/07/2022. Créditos: Centro de Referência do Memorial da Resistência.
Curadoria: Acervo Bajubá
Pesquisa: Ariana Mara da Silva e Florence Belladonna Travesti
Pesquisa complementar: Remom Bortolozzi e Natan
Produção: Bruno O., Marcos Tolentino e Yuri Fraccaroli
Identidade visual: Bruno O.
Oficina de escrita e publicação [não parecem sentir vergonha]: Amara Moira e Laura Daviña
Mediação da publicação [Coletiva da Mulheres]: Laura Daviña
[Coletas de Testemunho]
Entrevistadores: Marcos Tolentino e Yuri Fraccaroli
Participação: Neon Cunha, Thais Azevedo, Marcinha do Corinto e Iyá Cida
Mediação testemunho público: Barbara Esmênia e Julia Gumieri
Participação (testemunho público): Rita Quadros, Daiane Pettine e Florencia Castoldi
Agradecimentos: Ana Pato, Julia Gumieri, Bruna Caetano, Jean Camoleze, Elielton Ribeiro, Museu de Arte Osório Cesar, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro, PS_SP/Parquinho Gráfico, JAMAC/Jardim Miriam Arte Clube, Casa do Povo e Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico